sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Olhos de comer fotografia.

Conheceram-se entre livros e histórias. Ela uma menina, loira e linda. Ele um homem, que queria ser menino. Nos primeiros encontros várias conversas de olhares silenciosos – mas que diziam muito. Ele a olhava como que enfeitiçado, a despia com o olhar e depois a comia com aqueles olhos de comer fotografia. Mas eles também conversavam com palavras, e ela gostava muito da voz dele. Quando ele falava, era ela quem encarava, fascinada, querendo engolir aquele homem.

Seguiram-se então muitos encontros, muitos olhares, palavras, canções e fotografias. Um pouco de dança, alguns drinques, viagens e um tanto de brigas. Até que ele percebeu: ela era tudo que ele sempre sonhara encontrar em uma mulher. Ela poderia ser a mãe de seus filhos. Desse dia em diante ele a amou assim: como a mãe dos filhos que ele não queria ter. Como aquela que o empurrava à indesejada vida adulta. Como a mulher que, pelo simples fato de existir, o ameaçava com a permanência de um relacionamento que fica, apesar de tudo, um para sempre impossível e assustador.

Ela sentia quando ele pensava em fugir: uma sombra escurecia os olhos, a foto se esvanecia. E ele ia. Mas a ida dele sempre voltava. E o desespero dela sempre esperava. E continuavam ali. Ela amando como quem ama o erro, sabendo que não pode consertá-lo, e odiando-o por isso. Ele amando sem amar, querendo correr, mas se vendo ficar. E em tantas idas e vindas, amores e ódios, começos e fins, às vezes, em silêncio, se olhavam. Naquele instante, tudo surgia, e tudo desaparecia. Restavam apenas os dois, que se comiam, com aqueles olhos de comer fotografia.


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