terça-feira, 5 de agosto de 2008

Palavras que ferem

Hoje, uma amiga me disse assim:

"Há dias em que leio suas palavras e elas me doem... ferem por dentro..."

Fiquei pensando no poder que há na palavra. Palavras são como chaves. Abrem portas de quartos que nem sempre queremos entrar. A vida por vezes é igual casa mal assombrada. Causa medo. Recordo-me que na infância tinha medo de algumas portas fechadas. Meus irmãos me diziam que lá dentro moravam fantasmas. A porta exercia um fascínio e um medo sobre mim. O pavor estava estabelecido...Hoje, depois de crescido por fora, nem sempre por dentro, fico pensando que fantasmas se alimentam de medos. Eles existem à medida que os tememos. Se quisermos matá-los teremos que olhá-los nos olhos. Eles não resistem ao brilho do nosso olhar. Da mesma forma como na fábula dos vampiros, a vítima precisa entrar na casarão de forma livre e expontânea. O vampiro não força a entrada de sua vítima, mas a seduz.O medo funciona assim. É uma forma de sedução. Ele nos envolve e nos acostuma a vivermos distantes da coragem. Entramos pela porta da frente e depois não conseguimos encontrar a saída...A palavra é como uma lanterna que nos ajuda na fuga. Ela entra pelo ouvido e desperta o restante do corpo para um desejo superior: ser livre!Talvez seja por isso que a Teologia nos ensine, que a redenção chegou no mundo, por meio da palavra que se encarnou... O verbo de Deus interferiu no mundo... Interferiu ferindo as estruturas. Feriu quem encontrou... convenceu que poderia ser diferente, que vale à pena desafiar as portas fechadas.Há palavras que ferem. Ferem porque não há cura sem o sangramento que expulsa a infecção.A palavra é um recurso que nos humaniza...

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